Com uma produção diária aproximada de 67 milhões de litros de leite inspecionado, conforme aponta o Anuário Leite 2024 da Embrapa, cerca de 24 milhões de litros são destinados à fabricação de queijos. Esse processo gera aproximadamente 22 milhões de litros de soro de leite por dia, o que equivale a cerca de 100 ml de soro por habitante diariamente. Mas a quem interessa esse produto?
Esse foi o tema central da palestra "By the Whey, Z Generation", ministrada por Rodrigo Stephani, pesquisador do Inovaleite/UFJF, durante o segundo dia do Dairy Vision 2024.
Em sua apresentação, Rodrigo abordou a interação entre pessoas e produtos, especialmente o soro de leite e produtos derivados que o utilizam. Seu foco foi a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), que atualmente representa uma parcela expressiva da população brasileira.
Rodrigo apresentou dados recentes que mostram que o consumo de soro de leite é vantajoso entre a Geração Z em comparação com as gerações anteriores, que tradicionalmente viam o soro como um subproduto de menor valor. Ele ressaltou que, do ponto de vista do consumo, a Geração Z é hoje a maior parte da população consumidora e, portanto, é essencial entender suas preferências e tendências.
Além disso, Rodrigo destaca um fato curioso: as gerações mais antigas tendem ao consumo de queijos, cuja produção gera soro como coproduto. Em outras palavras, enquanto uma geração consome queijo sem valorizar o soro, outra aprecia o soro, mas não consome tanto queijo. Dessa forma, os hábitos de consumo parecem se complementarem.
Preferências de consumo de lácteos entre gerações
De acordo com o Anuário Leite 2023 da Embrapa, a bebida láctea é o produto mais consumido entre adolescentes e crianças, diferentemente de adultos e idosos, para quem esse é o produto lácteo menos consumido, como é possível observar na tabela abaixo:
Atualmente, o soro é o principal coproduto da indústria de laticínios. Embora historicamente subvalorizado, nos últimos anos tem-se demonstrado que essa visão não reflete o real potencial do soro. A produção de Whey Protein Concentrado (WPC) é um exemplo claro do valor agregado desse subproduto. Curiosamente, as gerações nascidas após 1995, que cresceram com acesso a produtos mais sofisticados, tendem a consumir produtos com soro na composição, muitas vezes sem se dar conta de que o coproduto está presente.
O pesquisador também apresentou com exclusividade em sua palestra no Dairy Vision os dados de uma pesquisa realizada pelo Inovaleite em setembro de 2024, na qual 429 pessoas de diferentes faixas etárias foram entrevistadas sobre seus hábitos e percepções em relação ao leite e à bebida láctea. Um dos destaques da pesquisa é a disposição das pessoas em pagar por 200 ml (um copo) de determinado produto lácteo.
Em todas as categorias de produtos, a Geração Z (15 a 29 anos) demonstra uma disposição maior para pagar por lácteos em comparação com as gerações anteriores, como a Geração Y, Geração X e os Boomers.
Em relação aos produtos, a Geração Z está disposta a pagar mais pelo leite com chocolate em relação ao leite puro. Por outro lado, os Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) preferem pagar menos pelo leite com chocolate do que pelo leite puro.
Quando se trata de bebidas lácteas sabor chocolate, todas as gerações indicam uma menor disposição a pagar, em comparação com o leite sabor chocolate. A situação se agrava quando se menciona a bebida láctea sabor chocolate com soro – ingrediente comum em bebidas lácteas no Brasil. A simples adição do termo "soro" leva a uma queda ainda maior na disposição de compra.
O estudo ganha ainda mais relevância ao investigar a disposição a pagar pela bebida láctea sabor chocolate com "whey", sem menção a um maior teor de proteína, apenas com o uso da palavra "whey". Nesse caso, a disposição a pagar aumenta de forma significativa, especialmente entre os membros da Geração Z. No entanto, os Boomers continuam apresentando uma menor disposição a pagar por esse tipo de produto, o que representa uma perda de oportunidade para o setor, considerando que essa é uma faixa etária que possivelmente tem maior necessidade de uma nutrição específica e pode estar sendo subestimada pelo mercado.
Atualmente, grande parte do volume de leite produzido no Brasil é destinado à fabricação de queijos. Como resultado, uma quantidade expressiva de soro é gerada, mas ainda não é aproveitada de maneira eficiente, o que representa uma oportunidade promissora para a indústria. Embora algumas empresas já reconheçam o valor do soro e utilizem de forma eficaz, novas iniciativas começam a surgir nesse contexto. No mercado global, o interesse pelo soro vem crescendo de forma consistente. “O Brasil é um dos países que mais gera soro de leite no mundo, e isto definitivamente não é um problema”, mencionou Rodrigo.
Portanto, ao falarmos da cadeia produtiva do leite, é essencial incluir a cadeia do soro, que é parte integrante desse processo. É fundamental superar a percepção de que produtos derivados do soro possuem uma qualidade inferior.
Sob a perspectiva da sustentabilidade, uma questão cada vez mais relevante, o aproveitamento do soro não é apenas necessário, mas uma decisão inteligente e consciente. É crucial que o público entenda que, ao consumir queijo, deve-se considerar o destino do soro resultante. Desvalorizar esse coproduto é um equívoco, uma vez que ele possui grande importância no mercado nacional e oferece um enorme potencial de crescimento. (Milkpoint)
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Balança comercial de lácteos: volume de importações volta a crescer
Após ficar em estabilidade em setembro, o volume total de importações de lácteos voltou a crescer em outubro, influenciado pelo maior de número de dias úteis no último mês. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o saldo registrado no mês de outubro (exportações – importações) chegou a -199 milhões de litros em equivalente-leite, registrando uma queda mensal de cerca de 22 milhões de litros em relação a setembro, conforme pode ser observado no gráfico 1.
Gráfico 1. Saldo mensal da balança comercial brasileira de lácteos – equivalente leite.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
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