Tanto os Estados Unidos quanto o Brasil vivenciam transformações significativas no setor leiteiro, marcadas por um aumento na produção e concentração da atividade em médio e grandes produtores. Compreender as tendências em cada país nos ajuda a entender para onde caminha o futuro do setor lácteo global.
Produção de leite nos EUA: número de vacas estável e aumento na produção
O Censo Agrícola do Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas do USDA revelou dados relevantes sobre a produção de leite nos Estados Unidos, evidenciando duas tendências principais: aumento na produção e concentração em grandes operações.
A produção de leite nos EUA cresceu 11,8 bilhões de litros entre 2013 e 2023, com um número relativamente estável de vacas. Esse crescimento não foi uniforme em todo o país, 16 dos 24 principais estados produtores registraram aumento em sua produção, enquanto 8 estados, incluindo Califórnia, Flórida e Illinois, apresentaram queda. Texas, Wisconsin e Idaho lideraram o crescimento.
*Gráfico em milhões de libras (1 libra de leite equivale a aproximadamente 0,473 litros de leite). Fonte: Farm Journal’s State of the Dairy Industry report. Imagem traduzida.
“Por uma ampla margem, o maior crescimento ocorreu no Texas, produzindo mais 3,3 bilhões de litros de leite de 195.000 vacas a mais do que há 10 anos”, disse Lucas Fuess, analista sênior de laticínios do Rabobank.
O tamanho das fazendas também sofreu uma mudança notável. De acordo com Fuess, as operações com menos de 500 vacas representam 80% das fazendas leiteiras do país. No entanto, a maioria das vacas está em fazendas com 1.000 animais ou mais.
Fonte: Farm Journal’s State of the Dairy Industry report. Imagem traduzida.
Para Lucas Fuess, a tendência futura do leite nos EUA é a concentração do rebanho em grandes fazendas. “No futuro, é provável que mais vacas se mudem para fazendas maiores, que são capazes de produzir leite a um custo menor em comparação com operações menores. O crescimento no número de fazendas maiores persistirá, mas as fazendas menores continuarão existindo em números consideráveis, especialmente aquelas que praticam a agricultura diversificada e aquelas que mantiveram baixos níveis de endividamento.”
Como se comportou a produção no Brasil nesse período?
Para entender as transformações na base produtiva brasileira, em 2023 a MilkPoint Ventures realizou uma pesquisa inédita, que amostrou quase 1/3 do leite inspecionado no Brasil (32,3% do leite formal), a partir de 41 laticínios, sendo 17 cooperativas e 24 não cooperativas.
Em conjunto, as empresas amostradas processam 21,1 milhões de litros/dia a partir de 48.432 produtores, com média de 437 litros/dia. Em 2013, a média havia sido de 246 litros/dia, evidenciando um expressivo crescimento de 77% no período.
Fonte: Relatório Quem Produz o Leite Brasileiro 2023.
Analisando as 17 empresas que participaram dos levantamentos de 2013 e 2023, os números são também significativos para explicar as mudanças (Figura 4). Estas empresas aumentaram a captação em 36% com uma queda de 19% no número de fornecedores.
Fonte: Relatório Quem Produz o Leite Brasileiro 2023.
Segundo o relatório “Quem produz o leite brasileiro”, os 4,8% de produtores, cuja produção é superior a 2.000 litros/dia, produzem hoje quase a metade do leite – 46,3%. Já os produtores abaixo de 200 litros perfazem 60,7% do total de produtores, mas respondem por apenas 11,3% do leite.
Fonte: Relatório Quem Produz o Leite Brasileiro 2023.
O Brasil, assim como os EUA, passa por uma transformação considerável na produção de leite. Ambas as produções seguem em trajetória de crescimento, impulsionada pela eficiência. A concentração em grandes fazendas é uma tendência marcante, enquanto a viabilidade de pequenos produtores depende da busca por diferenciação, agregação de valor e adoção de novas tecnologias.
Políticas públicas setoriais devem envolver enfoques distintos dependendo do público-alvo: para produtores de menor porte, acesso a crédito, assistência técnica qualificada e acesso ao mercado (incluindo oportunidades para a diferenciação do produto), visando oferecer possibilidades de inserção nessa nova realidade. Para grandes explorações, são necessários incentivos para a instalação de novos projetos, bem como mostrar que a produção em escala com eficiência pode ser um bom negócio. Para ambos os públicos, a criação de ferramentas que permitam maior previsibilidade de receitas e despesas é oportuna, melhorando o ambiente de negócios no setor. (Por Maria Luíza Terra/Milkpoint)
0 Comentários