Leite e derivados: saúde e sabor determinam consumo




Tendências recentes reforçam a necessidade de os agentes do setor compreenderem e se adaptarem às novas demandas, promovendo produtos lácteos que unam saúde e sabor, ao mesmo tempo em que valorizem a acessibilidade e o fator qualidade.

Os números pós-pandemia continuam nos surpreendendo. Pesquisa recente da Horus Inteligência de Mercado, para a Associação Brasileira dos Supermercados - Abras, revelou que não são os itens básicos que predominam nas cestas de compras dos brasileiros. Ao contrário, os consumidores continuam cedendo aos prazeres alimentares, ou seja, a compra por indulgência permanece enraizada na nossa cultura. O índice de incidência, que mede a presença percentual de cada item na cesta de compra dos brasileiros, mostra que, dos sete produtos com maior incidência nas notas fiscais de compra nos supermercados, cinco são produtos indulgentes (Figura 1). São eles: cerveja (com a maior incidência), refrigerante, biscoitos, chocolate e vinho. Apenas dois itens são da cesta básica: pão e leite. 

É interessante notar que nem os itens típicos da culinária brasileira, que são arroz e feijão, constam nesta lista. Mas, deve-se atentar que a medida de incidência não indica volume ou quantidade consumida, mas, sim, frequência de compras. Assim, a menor incidência desses itens pode estar relacionada com o fato de ser adquiridos em compras mensais, enquanto as compras por indulgência ocorrem mais vezes ao longo mês. De qualquer forma, o fato de o leite ainda figurar neste ranking indica a importância que o produto tem para o consumidor brasileiro.

Os inúmeros benefícios do consumo de leite, associados à versatilidade do produto na preparação de receitas, trazem uma vantagem competitiva para o produto, que, em termos de incidência, ficou à frente da água mineral e até dos snacks. Dentro da categoria de lácteos, a situação é um pouco diferente. Após o leite UHT, os derivados lácteos que aparecem mais vezes nas notas fiscais de 
compra são os iogurtes e os queijos (Tabela 1). 

Ambos carregam um apelo de saudabilidade, especialmente o iogurte.De acordo com a citada tabela, com exceção do leite condensado, todos os derivados do leite aparecem com maior frequência na cesta de compras de consumidores da classe AB. Corroborando com estudos anteriores, esses dados mostram que o consumo da categoria leite e derivados é muito dependente da renda da população. Por outro lado, mostram também que o produto com maior apelo indulgente da categoria, o leite condensado, tem seu consumo mais atrelado à população de baixa renda, mais uma vez ressaltando a característica da população brasileira, que mesmo nas dificuldades financeiras e crises, se permite algumas indulgências. 

INDICADORES DÃO DESTAQUE AO LEITE E SEUS DERIVADOS NA ALIMENTAÇÃO

Com exceção dos queijos, todos os outros produtos têm o sábado como um dos principais dias de compra. Para os queijos, os principais dias são domingo e sexta-feira. Considerando que estes são 
dias em que as pessoas tendem a se reunir com amigos ou familiares e fazer refeições especiais (jantares na sexta e almoços aos domingos). Isso pode indicar compras de última hora para compor esses lanches e refeições especiais. Dentre os queijos mais comprados, estão muçarela (69% de incidência dentro da categoria), seguido pelo queijo prato (18,4%) e minas frescal (7%). Ainda com relação ao dia de compra, é interessante notar que a segunda-feira aparece como um dos dias de maior incidência de compra apenas para o leite UHT e o iogurte. Considerando que a segunda-feira é tradicionalmente o dia de se iniciar dietas, pode-se inferir que essas compras podem estar atreladas à tendência de busca por saudabilidade, com foco na prevenção de doenças e benefícios adicionais à saúde. Com relação às regiões que mais têm comprado produtos lácteos, não é possível observar um padrão. Com a grande heterogeneidade de gostos e culturas no Brasil, há grande diferença entre as regiões que apresentam maior incidência de um ou outro derivado do leite. Portanto, estes dados evidenciam que, mesmo diante das transformações sociais e econômicas pós-pandemia, o leite e seus derivados mantêm papel importante na alimentação dos brasileiros. A presença constante desses produtos nas cestas de compras, especialmente entre consumidores de maior renda, reflete valorização da qualidade e da saudabilidade associada a esses alimentos. Paralelamente, o consumo indulgente de itens como leite condensado, mesmo entre a população de baixa renda, destaca a busca por prazer e conforto pela alimentação. Essas tendências reforçam a necessidade de os agentes do setor compreenderem e se adaptarem às novas demandas, promovendo produtos que unam sabor, saúde e acessibilidade, de modo a construir um futuro promissor para o leite brasileiro. (Anuário do Leite da Embrapa 2024 - Adaptado pelo SINDILAT/RS)

 






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