CARACTERÍSTICAS DO TRADICIONALISMO
Mais do que uma teoria, o Tradicionalismo é um movimento. Age dentro da psicologia coletiva. Sua dinâmica realiza-se por intermédio dos Centros de Tradições Gaúchas, agremiações de cunho popular que têm por fim estudar, divulgar e fazer com que o povo "viva" as tradições rio-grandenses.
O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente POPULAR, não simplesmente intelectual. É verdade que o tradicionalismo continuará sendo compreendido, em sua finalidade última, apenas por uma minoria intelectual. Mas, para vencer, é fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares, isto é, nas canchas de carreiras, nos auditórios de radioemissoras, nos festivais e bailes populares, na "Festas do Divino" e de "Navegantes", etc.
Para alcançar seus fins, o Tradicionalismo serve-se do Folclore, da Sociologia, da Arte, da Literatura, do Esporte, da Recreação, etc. Tradicionalismo não se confunde, pois, com Folclore, Literatura, Teatro, etc. Tudo isso constitui MEIOS para que o Tradicionalismo alcance seus fins. Não se deve confundir o Tradicionalismo, que é um movimento,, com o Folclore, a História, a Sociologia, etc., que são ciências. Não se deve confundir o folclorista, por exemplo, com o tradicionalista: aquele é o estudioso de uma ciência, este é o soldado de um movimento. Os Tradicionalistas não precisam tratar cientificamente o folclore; estarão agindo eficientemente se servirem dos estudos dos folcloristas, como base de ação, e assim reafirmarem as vivências folclóricas no próprio seio do povo.
AS DUAS GRANDES QUESTÕES DO TRADICIONALISMO
Existem duas questões importantíssimas, que de maneira nenhuma podem ser descuidadas pelos tradicionalistas, sob pena deste esforço cultural se desenhar, de antemão, como uma experiência fracassada.
a) ATENÇÃO ESPECIAL ÀS NOVAS GERAÇÕES
Deve, o Tradicionalismo, operar com intensidade no setor infantil ou educacional, para que o movimento tradicionalista não desapareça com a nossa geração. Porque nós - os tradicionalistas de primeira arrancada - entramos para os Centros de Tradições Gaúchas movidos pela necessidade psicológica de encontrar o "grupo local" que havíamos perdido ou que temíamos perder. Mas as gerações novas não chegaram a conhecer o grupo local como unidade social autêntica, e somente seguirão nossos passos por força de impulsos que a educação lhes ministrar.
Por isso não temo afirmar que o dia mais glorioso para o movimento tradicionalista será aquele em que a classe de Professores Primários do Rio Grande do Sul - consciente do sentido profundo desse gesto, e não por simples atitude de simpatia - oferecer seu decisivo apoio a esta campanha cultural.
Aliás, não se concebe que as Escolas Primárias continuem por mais tempo apartadas do movimento tradicionalista. Pois a maneira mais segura de garantir à criança o seu ajustamento à sociedade é precisamente fazer com que ela receba, de modo intensivo, aquela massa de hábitos, valores, associações e reações emocionais - o patrimônio tradicional, em suma - imprescindíveis para que o indivíduo se integre eficientemente na cultura comum.
b) ASSISTÊNCIA AO HOMEM DO CAMPO
A idéia nuclear das Tradições Gaúchas é a figura do campeiro das nossas estâncias. Por isso, é sumamente necessário que o Tradicionalismo ampare social e moralmente o homem do campo, para que um dia não se chegue à situação paradoxal de manter-se uma Tradição de fantasia, em que se tecessem hinos de louvor ao "Monarca das Coxilhas", ao "Centauro dos Pampas", e esse gaúcho fosse um desajustado social, um pária lutando febrilmente pela própria subsistência. A nossa cultura somente poderá se impor sobre as outras culturas, no entrechoque inevitável, se for suficientemente prestigiosa. Daí a razão por que precisamos mostrar às novas gerações - bem como àqueles que, vindos de terras distantes, acorrerem à nossa querência - que as tradições gaúchas são REALMENTE belas, e que o gaúcho merece realmente a nossa admiração.
O TRADICIONALISMO COMO FORÇA ECONÔMICA
Prestigiando as tradições gaúchas e prestando assistência moral e social ao homem do campo, o Tradicionalismo estará contribuindo de maneira inestimável para a solução do problema que ora sufoca a nossa vida econômica: o êxodo rural, a crise agrícola. É que, dentre as principais causas do êxodo rural, encontramos uma que foge ao âmbito dos fenômenos econômicos. Para proteger o homem do campo, e fazer com que ele permaneça no meio rural, não basta que o Estado lhe forneça meios econômicos mais seguros. Se o campesino acaso julgar que o lugar que lhe está reservado na sociedade encontra-se nas cidades, ele será um desajustado enquanto não realizar seu sonho de transferir-se para a cidade. Este fenômeno prende-se ao conceito sociológico de "status", que é a posição social de uma pessoa em relação a todas as outras com quem está em contato. Se "os outros" demonstram que certo indivíduo ocupa um "status" digno, ele fica satisfeito; mas se "os outros" demonstram o contrário, ele é, inconscientemente, levado a demonstrar habilidade, e, nesse afã, sempre deseja competir com os indivíduos que considera superiores, jamais com aqueles que considera inferiores. Assim sendo, se o campesino se considera inferior ao citadino, mais cedo ou mais tarde tentará procurar a cidade, para ali competir com quem lhe rouba a posição social.
Prestigiando as tradições gaúchas, e prestando assistência moral e social ao homem do campo, o Tradicionalismo estará convencendo o campesino da dignidade e importância do seu "status". Estará, em suma, pondo em prática aquilo que o sanitarista Belizário Penna um dia salientou, mais ou menos nestes termos: "O Brasil é o país onde mais se fala em valorização. Valorização do café brasileiro, do dinheiro brasileiro, do algodão brasileiro, do boi brasileiro. Somente não se pensa na mais urgente e importante valorização: a do Homem brasileiro, a qual, por si só, estaria conduzindo a todas as outras".
0 Comentários